sexta-feira, 8 de junho de 2012

O Nome do Vento - Patrick Rothfuss

O Nome do Vento é o primeiro livro da trilogia A Crônicas do Matador do Rei, escrito pelo estadunidense Patrick Rothfuss. Este foi o primeiro livro publicado pelo autor.

"Já fui chamado de Kvothe, o Sem-Sangue; Kvothe, o Arcano; e Kvothe, o Matador do rei. Mereci esses nomes. Comprei e paguei por eles. (...) Fui chamado de muitas outras coisas, é claro. Grosseiras, na maioria, embora pouquíssimas não tenham sido merecidas.
Já resgatei princesas de reis adormecidas em sepulcros. Incendiei a cidade de Trebon. Passei a noite com Feluriana e saí com minha sanidade e minha vida. Fui expulso da universidade com menos idade do que a maioria das pessoas conseguem ingressar nela. Caminhei à luz do luar por trilhas de que outros temem falar durante o dia. Conversei com deuses, amei mulheres e escrevi canções que fazem os menestréis chorar.
Vocês devem ter ouvido falar de mim.
"


Kvothe é um homem extraordinariamente inteligente, poderoso e experiente. Toda sua vida fora repleta de aventuras e perigos, paixões e infortúnios, mas agora ele vive desaparecido para o mundo, sob o disfarce de um simples proprietário de uma hospedaria num vilarejo. As histórias que são contatas pela população sobre este personagem lendário, quase sempre são incorretas e, quando muito, incompletas. Decidir se Kvothe é herói ou vilão é trabalho quase impossível, no mínimo, duvidoso.

Enquanto vive sua pacata e tediosa vida numa hospedaria quase não frequentada, Kvothe recebe uma visita inesperada: Devan Lochees, o Cronista, encontra-o e tendo conhecimento de quem aquele hospedeiro é na realidade, propõe a Kvothe que conte toda a sua verdadeira história a ele. Contudo, Kvothe só concorda em fazê-lo em suas condições — seriam três dias para narrar toda a história ao Cronista e este seria impedido de fazer qualquer alteração no texto original. Quando tudo foi acordado entre as partes, a história principia-se...

– Vejo que você está rindo. Muito bem. Em nome da simplicidade, presumamos que sou o centro da criação. Para isso, deixemos de lado inúmeras histórias maçantes: a ascensão e queda de impérios, as sagas de heroísmo, as baladas de amor trágico. Avancemos depressa para a única história que tem importância real. – Seu sorriso se alargou. – A minha.


Kvothe é, na realidade, filho do líder da trupe itinerante Edena Rhu. Como tal, ele viveu sob a influência constante da música e da encenação teatral. Desde pequeno ele mostrava-se intelectualmente superior às outras crianças de sua idade. Foi também durante a infância que Kvothe conheceu Abenthy, um verdadeiro arcanista, que chama a atenção do garoto ao invocar o nome do vento. Abenthy é contratado para trabalhar junto aos Edena Ruh, e a presença dele influencia fortemente a vida de Kvothe.

Após algum tempo tendo uma vida muito feliz, repleta de amor e carinho dos pais, amigos que cresceram junto dele e possuindo um arcanista formado como professor, Kvothe vê-se completamente sozinho de um instante ao outro. Não fora somente uma perda sofrida; desabara-se de uma vez em cima do garoto toda infelicidade que uma vida é capaz de oferecer. Perdera tudo que preenchia seu coração - pais, amigos e companheiros. Chandriano, que é um famoso folclore dos Quatro Cantos, matara tudo de precioso que havia na vida de Kvothe sem piedade...

A reação de Kvothe à isso é enfurnar-se dentro de si próprio; guardou e trancou no seu subconsciente toda e qualquer tipo de lembrança que envolvesse seu passado, inclusive a própria racionalidade. Ele passa a viver como um animal, apenas fazendo o necessário para manter-se vivo, praticando o que lhe era instintivo, e tendo junto dele apenas o alaúde de seu pai e um livro que ele tinha ganhado de Abenthy.

Quatro meses depois, chega em Tarbean, e ali Kvothe é apresentado a muito mais sofrimento, vivendo em condições desumanas nas ruas, sendo espancado e passando por humilhação. Kvothe vive assim por três longos anos... Até que toma a decisão que o levaria a Universidade, lugar onde estuda-se para se tornar um arcanista.

Organiza-se, voltando a utilizar de toda a esperteza de seu cérebro de gênio, e parte em direção a Universidade. Durante a viagem, Kvothe conhece e apaixona-se por Denna. Porém não passam muito tempo juntos e logo precisam se separar, cada qual seguindo seu caminho.

Kvothe chega a Universidade e inicia uma nova vida... Sem dinheiro nem nome que o elevasse hierarquicamente, utilizou-se apenas de sua inteligencia e memória quase perfeita para ser aprovado pelos Mestres da Universidade. 

A personalidade forte de Kvothe, no entanto, de imediato já causa prejuízos a ele, conquistando rivais e inimigos nada convenientes. Mas ele também encontra amigos e, enquanto estuda na Universidade, conquista e adquire bens ao mesmo tempo que os perde em suas diversas confusões. Reencontra seu amor platônico em acasos estranhos e apaixona-se ainda mais. Em instante algum, entretanto, Kvothe esquece do motivo pelo qual o fez lutar para estar ali, pois assim como o Chandriano não teve piedade de sua família, Kvothe nunca apiedou-se do folclore monstruoso. A sede de vingança corria quente em suas veias.

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Este livro é mais que sensacional; é incrível e magnânimo o mundo que Patrick Rothfuss criou!

A história é contata numa alternância entre terceira e primeira pessoa. Enquanto Kvothe está na hospedaria, em terceira; enquanto ele narra sua própria história ao Cronista, em primeira. A história toda é excelente, além de muito complexa em alguns sentidos para se fazer um resumo que abranja o enredo inteiro sem fazer spoilers. Perdoem-me pelo resumo, eu realmente tive dificuldade em fazê-lo.

A maneira tão envolvente e maravilhosa que o autor foi capaz de escrever, dando toques na história que verdadeiramente tornam o ato de fechar o livro um pesadelo. É doloroso, literalmente. O leitor envolve-se na história do protagonista de um modo tão agradável, sentindo com pesar todas as suas tristezas e o amor platônico por Denna.

O sentimento que Kvothe tem por Denna é muito, muito bem apresentado! A maneira como ele descreve-o, às vezes tão maravilhoso e às vezes tão terrível. O modo como ele sente tanto amor por ela, mas nunca é capaz de dizê-lo apesar de todas as indiretas da menina de que aquilo poderia ser correspondido... Enfim, essa é uma parte pela qual me identifico imensamente com Kvothe.

O mundo que Patrick criou é cheio de mistérios e de coisas que prende-nos a história do início ao fim. Como qualquer livro de literatura fantástica, ele faz uso de magia, mas de um jeito muito próprio. Nesse ramo fantástico do enredo ele foi muito inovador e a complexidade da imaginação dele é perturbadora, mas extremamente interessante - e verossímil, admito. O momento em que isso é explanado com detalhes é particularmente muito bom, então não vou estragar a surpresa de ninguém. Confesso apenas que tive que ler os parágrafos que falavam sobre isso cerca de três vezes para compreender adequadamente, pois nas primeiras leituras eu as conclui rindo de algo que eu sabia que era muito interessante, mas que não havia entendido nada.

O mundo ali é chamado de Quatro Cantos, e assim como no nosso, tem folclores. Eu admito que fiquei com receio de considerar o Chandriano algo ridículo e infantil, mas a verdade é exatamente o oposto disso. O único momento em que eles são mostrados é tenso. Nota-se que eles são seres monstruosos e corrompidos, cheios de impiedade.

Além, também, da escrita. Patrick fez com que eu devorasse o livro. A escrita dele é recheada de descrições bem elaboradas, cheias de detalhes pertinentes. É até interessante o quanto o autor alterna em vários sentidos, inclusive no modo de mostrar as coisas. Em alguns momentos, tudo é descrito com uma sensação poética e linda, e em outros, é tudo cruel demais para ser encarado. Contudo, esse detalhismo nunca deixa a leitura pacata ou tediosa. Ao contrário, nós nos emocionamos com Kvothe em todos os momentos — no amor, na infelicidade, na aventura, na diversão, na música...

Oh, a música! Aí, sim, um fator que distingue substancialmente O Nome do Vento da maioria dos livros que já li e vou ler. O autor incorpora diversos elementos musicais, que acompanham o protagonista desde o início, com seus pais, até os instantes mais tenebrosos do livro. No momento mais trágico de sua história, tocar alaúde torna-se o centro da sua vida, e então acontecem coisas surreais com os sons que ele é capaz de produzir, mas que de tão bem narrado, nos alcança. A música no livro é extraordinária, tanto no quesito instrumental quanto no vocal. É ótimo ver alguns conceitos de afinação e tom, grave e agudo, tenor e barítono...

É uma obra de qualidade imensurável. E admito com franqueza o quão complexo me foi escrever essa resenha, até mesmo por ter lido o livro há alguns meses. Neste momento estou apenas concluindo a leitura de outro livro para depois ler o que sucede O Nome do Vento, que é O Temor do Sábio.

O Nome do Vento é recomendável a todos, sem restrições! A quem ama Literatura Fantástica e quem a odeia — até para acabar com este preconceito.

Nota máxima para ele!

8 comentários:

  1. Olá!
    Não conhecia esse livro ainda. Mas agora, depois dessa ótima resenha, já estou mega ansioso para lê-lo.
    Além da história ser muito legal, a capa ficou muito boa também, né?!?
    Depois que eu ler, comento aqui o que achei..hehehheh
    Abraços

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    1. Olá, Thales!
      Que bom que comentou e que gostou da resenha! Fico muito alegre mesmo.
      Fico feliz, também, por ter se interessado pela história. É um livro pelo qual qualquer um deve investir e que acredito que ninguém se arrependerá de fazê-lo.
      Realmente a capa é muito linda também. Um ótimo trabalho feito por nossa editora. Pode ter certeza que a capa do livro que sucede este, O Temor do Sábio, é muito linda também!

      Enfim, agradeço por comentar e seja muito bem vindo!
      Volte sempre.
      Abraço.

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  2. Ei Herick,
    Eu sou apaixonada pela Cronica do matador do Rei. É uma de minhas séries preferidas. rsrs
    Que bom que vc gostou.
    Agora, quanto à sua resenha...esta excelente, de verdade.
    Parabéns!
    Bjs

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    1. Nossa, Hérida, estou exultando de alegria por você realmente ter vindo aqui e comentado!
      Gosto muito do seu blog, suas resenhas impecáveis e fico muito alegre por ter sido aprovado por você. haha

      Obs: Quanto a dica, muito obrigado mesmo! Na realidade eu não sabia que aquilo aparecia para o pessoal. Já retirei!

      Novamente, muito obrigado!
      Abraço.

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  3. Estou relendo O Nome do Vento, pois faz um tempinho que o li, e quero me embrenhar nas páginas de O Temor do Sábio. Confesso que estou gostando mais ainda da obra de Rothfuss. Eu fico impressionado com a beleza que ele narra as coisas. É uma fantasia nova, sem exércitos e sem batalhas épicas. Talvez por isso tanta gente critique o livro. Mas para mim, é um dos melhores livros de fantasia dos últimos tempos.

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    1. Também já estou com O Temor do Sábio aqui, mas tenho algumas leituras na frente, infelizmente (leituras obrigatórias da escola ú.u). Enfim, eu acho que, talvez, também o releia antes de passar para O Temor do Sábio. Apesar de ser um pouco desanimador, evidentemente reforça várias informações, além de captarmos algumas coisas que a primeira leitura não capta.
      Mas, verdade seja dita: O Nome do Vento é um livro extraordinário! Exatamente como você diz, um dos melhores da literatura fantástica atual.
      Agora, porém, você me veio com uma novidade: pessoas criticando a obra por não possuir guerras com exércitos? Sério mesmo, eu nunca vi esse comentário de alguém que leu... E fico chocado por isso. Acredito que quem diz isso tenha iniciado a leitura tendo essas características como pré-requisitos para que o livro fosse bom e acabou não vendo a verdadeira beleza dessa obra. Enfim, é uma crítica que não concordo de forma alguma!

      Eder, seja bem vindo ao blog junto às suas opiniões! Muito obrigado por comentar.
      Até uma próxima!

      Obs: desculpe-me por responder todos os seus comentários, eu não me aguentei! Todos os seus foram pertinentes.

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    2. Não se desculpe por isso. É uma honra. Gostei muito do teu blog, você escreve muito bem.
      Quanto às críticas a O Nome do Vento, o pessoal reclama de ser muito "parado", reclama de Kvothe ser muito egocentrico e sem modéstia, etc. Eu só posso concluir que o que eles esperavam eram guerras, exercitos, anões, elfos...

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  4. Olá, primeira visita ao seu blog. Adoro esse tipo de história, com certeza vou buscar ler a trilogia.

    http://indo-em-espiral.blogspot.com.br/

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