segunda-feira, 15 de julho de 2013

A noite que sucede a vida

Leiam esse conto estranho aí; escrevi ele há tempos mas só agora me toquei pra postar. É razoável.


A noite que sucede a vida

Na esquina o carro vira, a criança grita, o policial na rua corre. A morte ampara a vida em consonância com a noite que sucede ao derradeiro pôr do deslumbrante sol.

A vida nem sempre é tão magnífica quanto o brilho de sol do dia anterior. Este, no entanto, nem sempre é tão imponente. Existem dias nebulosos, em que o sol não dá a sua verdadeira face ao mundo nem se prontifica a dissipar a neblina e as trevas que prevalecem fora de tempo. Falta de chance? Cansaço? Vá saber. Como o sol que não brilha quando isso é sua obrigação, há vidas que não aproveitam o que podem fazer neste mundo de contradição e morbidez, e a morte os alcança, sob a forma de noite. Então dia se foi, noite chegou, o mundo continua o mesmo. Contesto! É relativo absoluto. A imutabilidade é absolutamente inexistente.

Vá, pequeno! Corra pelas ruas, divirta-se o quanto pode!

Torna a acontecer. O carro vira na esquina, a criança – no máximo 8 anos, quem dirá? – é atropelada. Voa longe e esfacela o seu rosto no asfalto. Graças às divindades piedosas, morre ainda no ar, após a pancada fatal do carro. O policial que vigia a rua – coitado – corre à cena e se prontifica a ver o fatídico dia em que seu primogênito perdeu a vida antes mesmo que seus pais fossem carregados pelos desgastados braços da morte, a entidade maldita por toda boca que vaia Roma.

Treme, chora, faz escândalo. Por sorte vê que o assassino de seu filho tivera compaixão e ficara lá na rua, tentando amparar a mãe da criança que chorava o choro copioso e desesperado das mães, as únicas que amam espantosamente com verdade. A pistola na mão do pai policial é vista com maus olhos pelos presentes que acercam o corpo morto do filho, mas ele não se importa. Sabe que de acordo com as leis de transito que tanto respeita, o outro não fizera nada errado. Mas que há? A mente só pensava em se vingar, a arma em sua mão era atraente e persuasiva, dizia ser resposta justa ao assassinato monstruoso que o homem desesperado perante ele cometera.

Aponta na cabeça, atira, mata.

E segue-se a justiça.

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